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Publicado em: 10/05/2024 - Autor: Eneas Barros - Visto: 6100 vezes
Fragmentos de um capítulo: O TERREMOTO DE LISBOA
Quem chegasse a Lisboa, na primeira metade do século XVIII, haveria de se impressionar com uma vida palpitante e miserável de sua população, a correr pelas ruas em subserviência à Igreja de Roma. Os inquisidores se esgueiravam pelos becos, à cata de qualquer sinal que pudessem notar para aplacar a ira de Deus sobre os infiéis. Alguém que ousasse não se curvar ou retirar o chapéu à passagem de uma procissão, em louvor às imagens santificadas, estaria cometendo uma heresia. Mendigos espalhavam nas ruas os reflexos da imposição religiosa, ao pedirem esmolas portando crucifixos do martírio de Jesus Cristo. As igrejas estavam sempre lotadas e os feriados santos eram tantos que o comércio mal conseguia abrir suas portas.
No reinado de Dom João V, a busca pela imitação das portentosas construções religiosas da França e da Inglaterra levaram ao surgimento de inúmeros mosteiros, seminários, conventos e igrejas, firmando Portugal como um país essencialmente dedicado à fé. O missionário Gabriel Malagrida teve muitas de suas missões financiadas por Dom João V, que o ajudava a espalhar seu apego ao catolicismo, ao abrir seminários no nordeste brasileiro.
Os viajantes que adentrassem o porto de Lisboa, rompendo a esplendorosa desembocadura do rio Tejo, certamente se encantariam com a imponência de seus prédios. O Mosteiro dos Jerônimos, construído duzentos anos antes pela benevolência do rei Dom Manuel I, era uma dessas construções que os deixariam impressionados. A Torre de Belém, outra obra manuelina, foi construída para servir de defesa à barra do rio e se exibia imponente aos olhos dos visitantes. Muitos outros prédios eram vistos por quem chegava a Lisboa pelo Tejo, oferecendo uma graciosidade arquitetônica que buscava se aproximar da imponência dos prédios ingleses e franceses.
Por suas ruas notava-se uma população separada por classes bem distintas. Enquanto a Corte se esbaldava em riquezas, oriundas de suas colônias ao redor do mundo, e principalmente do ouro e pedras preciosas brasileiros, o país nada produzia e muito importava, repassando grande parte dessas riquezas para os cofres ingleses. Havia muita dificuldade econômica, o que levava à degradação social e ao banditismo. Uma das profissões que se espalharam rapidamente foi a de testemunhas, que podiam ser encontradas na praça do Rossio, à cata de alguns trocados para aplicarem falso testemunho nos tribunais. Nada fugia à perseguição do Santo Ofício, desequilibrando as atitudes humanas com a arquitetura suntuosa.
Passava das nove horas da manhã quando Lisboa começou a tremer. O sol estava aberto, o céu azul, sem nuvem alguma, e o dia bonito e claro. Mariana e Heitor moravam na parte alta da cidade e sofreram o impacto com menor intensidade. Pela situação inusitada, desconfiaram de que algo grave acontecia. Era feriado, dia de Todos os Santos, e as igrejas estavam repletas de fiéis. Enormes crateras foram abertas pelas ruas na manhã daquele sábado, dia 1º de novembro de 1755, com abalos que se prolongaram por nove minutos e projetaram efeitos por mais de duas horas de duração. Foram incontáveis os desmoronamentos de conventos, palácios, igrejas, castelos, o faustoso teatro da Corte, inaugurado oito meses antes com o nome de Real Casa da Ópera, a Casa da Relação, o majestoso palácio real Paço da Ribeira e sua valiosa biblioteca de 70 mil volumes às margens do Tejo, a Torre do Tombo e o imponente Hospital de Todos-os-Santos, levando à perda de documentos, quadros, baixelas valiosas, obras de arte e muitos registros históricos. A população se refugiou nas imediações dos portos. O recuo das águas exibiu destroços há séculos repousados no fundo do mar, uma cena pouco usual de restos de navios e cargas expostos aos habitantes, que naquela manhã buscavam locais mais seguros para se protegerem das surpresas. Em poucos instantes, ao recuo das águas se sucederam ondas de mais de vinte metros de altura, que quebraram sobre a cidade e devastaram a multidão aglomerada na região portuária, submergindo a parte central e adentrando por quase trezentos metros. A maré só voltou a normalizar na manhã seguinte. Como era um dia dedicado a todos os santos, havia velas acesas em muitas residências e nos diversos templos religiosos, o que provocou incêndios em pontos livres das águas, que queimaram durante cinco dias uma cidade que desmoronava, destruindo preciosidades urbanas. Noventa mil pessoas perderam suas vidas.
A família real portuguesa escapou ilesa da tragédia. Cedo, naquela manhã, logo após a missa pelo dia santificado, as filhas do rei pediram ao pai que as levassem para fora da cidade, para que pudessem passar o feriado. Essa iniciativa os livrou do perigo iminente. Para continuar a governar, Dom José I mandou construir um complexo de tendas no Alto da Ajuda, nos arredores de Lisboa, e passou a despachar de lá. O rei criou um pânico de lugares fechados e não voltou mais ao palácio. Sebastião José de Carvalho e Melo, que viria a ser Marquês de Pombal alguns anos depois, à época era Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra. Sua casa foi poupada da tragédia, o que levou o rei a acreditar em um sinal divino e a passar a considerá-lo um mensageiro da Providência para curar as iniquidades. Ao receber o secretário, logo após os tremores, Dom José I perguntou:
- O que se há de fazer para aplacar esse castigo da Justiça Divina?
- Enterrar os mortos e cuidar dos vivos – respondeu o secretário.
Autor: Eneas Barros
Edição: Livraria e Editora Nova Aliança, 2018
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